Ó Albertossaurus
Prodígio da natureza,
Tua memória perdida
Já não está esquecida
Pois fizeram a fineza,
De evocar tua existência
Reconstituir tuas feições,
Fazer-te voltar à vida
Da velha rocha erodida
Aos écrans das televisões,
E eis-te ali no monitor
Boca enorme e fedorenta,
Qual palco da desgraça
De quem por ti passa
E teus dentes experimenta.
Foi ontem que te vi
Com a carantonha feia,
Bramias fome e poder
Enquanto eu te estava a ver
No programa da Odisseia,
Teu verdadeiro nome
Albertossaurus não sei,
Mas este fica-te a matar
Para me fazeres divagar
Nas linhas que escreverei,
Um nome tão insólito
Tem os seus dias contados,
Não creio que a natureza
Ponha em cima da mesa
Nomes tão arrevesados,
Tão distantes que estamos
Albertossaurus da verdade,
Tu já morto e enterrado
E eu a caminho, admirado
Da tua proveta idade,
Albertossaurus tu e eu
Entes do mesmo mundo,
Olhamo-nos irmanados
Pese embora separados
Por um abismo profundo,
Eu, um mamífero novo
Tu um réptil primitivo,
As linhas que partilhamos
Acabam quando juntamos
O objectivo ao subjectivo,
Tens um cérebro diminuto
E é-te custoso pensar,
A fome é o teu mundo
E exige lá bem do fundo
Outro alguém para mastigar,
Tens consciência de ser
Não sabes ainda quem,
Só um fogo te consome
É um vazio, é a fome
Só não sabes quem a tem,
Do mundo que te rodeia
O Jurássico Superior,
Só tens uma noção vaga
A do teu peso que esmaga
E ao caminhar um tremor,
Fazendo de ti um monte
De dentes e crueldade,
Que inocente mas eficaz
O cheiro da morte traz
Aos campos da tua idade,
E aqui nos terrenos
Do Jurássico Superior,
Os fósseis encontrados
Revelam cristalizados
Essa época de terror,
Em que tu Albertossaurus
Um dinossauro feroz,
Os territórios assolavas
E a tua fome clamavas
Num trombetear atroz,
Assim nos lembramos
Do ar de besta prosaica,
Que outrora ostentavas
Quando livre caçavas
Na tua época arcaica,
Que ente serás agora
Na escala da evolução?
Uma galinha que debica
Ou uma ave que se agita
No frenesim da migração?
Vamos ver se sabemos
Quem são teus descendentes,
Cremos terem agora penas
E as bocas, mais pequenas
Não têm por ora dentes,
Albertossaurus donde vieste
Mas de que imo profundo?
Tuas fauces escancaradas
Parecem predestinadas
A engolir todo o mundo!
Ó ilustre Albertossauros
Tu és meu antepassado,
Um indirecto mas real
Pois tu radicas-te afinal
No nosso mútuo passado,
Partilhamos muito mais
Do que se possa pensar,
Vivemos ambos aqui
O mundo foi mau para ti
Mas ninguém vai cá ficar,
Se não fosse a Odisseia
E os filmes de bicharada,
Nunca eu vinha a saber
O que andavas a fazer
Naquela era passada,
Vê tu bem Albertossaurus
O tempo que nos separa,
Espero que tenhas evoluído
Que esteja tudo resolvido
E não te saia a fome cara.
20-9-2007
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