Não te vi um dia inteiro
Hoje estavas mais bonita...
Sabes? Pensei muito em ti
...Tive saudades Nelita...
Imagino o teu tormento
Pois sei bem como é
Não poder ser quem somos
Por estarmos ali ao pé,
Ajoelhamo-nos rendidos
Ao conforto da situação
Mas paga sempre as favas
O parvo do nosso coração,
Nunca sendo quem somos
Nunca poderemos ser
Perde-se assim o sentido
E a alegria de viver,
Lembrei-me de ti Nelita
Pois gosto de te ensinar
Coisas que eu sei bem
Que consegues abarcar,
Estás boa de cabeça
Mas a tua capa, dura
Onde te escondes, só
Quem é que agora a fura?
Só, como naquele dia
Menina abandonada
A si mesma e à sorte
Essa sorte danada...
Sabes que te aprecio
Mas num nível diferente
Falo às vezes contigo
Mas não como toda a gente,
Sei que quando me ouves
E te esqueces da janela
Deve soar-te mais lógico
Que dias e dias de vela,
De vela por alguém
Que afinal não morreu
Faz-se apenas de morto
E o teu coração mereceu,
Talvez gostes do jazigo
Pois é rico e bem cuidado
Não sais é do cemitério
Passas lá um bom bocado...
Afinal sempre piquenicas
Tal como a outra faz...
A quinta das tabuletas
Que recordações te traz?
Só conheço a minha tia
Cultuando os mortos assim
Vai lá todos os sábados
Pois a morte não tem fim,
Mas tu, tu Nelita
Que fazes no cemitério?
Anda daí cá para fora
Que tens aqui um mistério,
Anda perdido o teu amor
Não o logras encontrar
E olha que no cemitério
Deve ser difícil estar,
O amor, se lá viver
Não é o amor da vida
É o da morte certa
Sepulcralmente vestida,
Não procures mais a morte
Não vale a pena procurar
Deixa-lhe lá o trabalho
De ter que nos encontrar...
3-11-2109 - 18.50
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