Aquele par velhinho que vive mansamente
Na aldeia risonha, berço dos meus avós
Lembro-me ainda, era eu dez reis de gente
E já os via sempre unidos, sempre sós,
Aquelas vidas noutro tempo independentes
Foram ligadas sabe Deus por quantos nós
Hoje é um casal velhinho, sorridente
De olhar cansado e de arrastada voz,
E os seus rostos que através de gerações
Tomaram tão profundos sinais de desespero
Em sulcos de lágrimas amargas, desgostosas,
Dão tal ar de nobreza a esses aldeões
Que eu quando vejo, com respeito sincero
Comovida lhes beijo as suas mãos nodosas.
Severina Fortes
c. 1950
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