Trouxe-te por esta questão:
Resolvi fazer a autópsia
Desta poesia, porque não?
Está à mão de semear
Foi mesmo agora escolhida
Vou assassiná-la depressa
Para a morgue vai remetida,
Umas quantas letras
Na região interfractal
Algum vaso cortarão
Momentum mortis final,
Durante a observação
Na busca de ferimentos
Notei-lhe umas cicatrizes
Fruto de alguns sentimentos,
Ao dissecar o poema
Vi fibras entrelaçadas
Inspirações de musas
Generosas, dedicadas,
E sensações insinuadas
Lá atrás no nosso eu
Que notei neste poema
Algo dele afinal meu,
Pena agora, ainda criança
Ter que vir a falecer
Observei também os dias
Que cresceu até nascer...
Completamente despojado
Da sua roupa, da sua pele
Apresenta-se singelo como
Uma simples folha de papel,
Que alguém na sua busca
De mais alargadas vistas
Achou por bem sacrificar
Ao deus dos necrologistas,
Thánatos de seu nome
Preside a esta operação
De escarafunchar o poema
Na procura da solução,
Quem matou o poema?
E como foi que o fez
Qual foi o motivo?
Inútil, gratuito, soez...
Foi a fútil curiosidade
O desejo de saber
Aquilo que não se sabe
E que se tem de aprender,
Teve pois este poema
Razões para ter existido
Sobreviveu à ciência
Aqui está ele redigido,
E não o vou apagar
Vou antes guardá-lo
Não vá a crítica da poesia
Tentar ainda censurá-lo...
Ao acercar-me dele notei
Que se instalara o rigor mortis
O interesse nesta ciência
Foi por certo a causa mortis...
21-11-2019 - 15.10
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