segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Ruas da Cidade

Já no vale do Indo
Há mais de 5000 anos
Se tratava dos esgotos
E as casas tinham canos,
 
Depois com os Romanos
A cloaca funcionava
E canalizando os dejectos
No meio da rua passava,

Veio então a Idade Média
E nas ruas uma porcaria
Dos animais e pessoas
Todo o esterco lá caía,

Chegou depois a Renascença
Mas nada de saneamento
E a logo a seguir o Barroco
Com um cheiro pestilento,

Surgiu a Idade Moderna
E novas maneiras de ver
Mas a ausência de esgotos
Mantinha as ruas a feder,

E chegamos ao dia de hoje
Com as modernas cidades,
Arranha-céus e viadutos
Tubagens e oleodutos
Muitos carros e vaidades,

Onde os passeios empedrados
Com os símbolos da cidade,
Estão de merda salpicados
Como se fossem pintados
Numa enorme sujidade,

As casas já têm sanitas
E ninguém pensa em obrar,
Nos passeios e nas ruas
Mais a mais a expensas suas
Pois há multas a aplicar,

Mas quem nas ruas andar
E não olhar para o chão,
No seu caminho pisando
Vai sem saber levando
De presente um cagalhão,
 
Chega a casa e na alcatifa
Já cheia de ácaros e pó,
Pululam novas bactérias
Arrastadas para férias
Em grande forróbódó...

E depois vem o rebento
Que aprendeu a gatinhar,
Correr risco de infecção
Esfregando as mãos no chão
Para na boca as ir lavar...

Ao ver tudo isto agora
Os Romanos imperiais,
Com as suas togas cobertos
Ficariam boquiabertos
Com estes costumes boçais,

Afinal de que valem esgotos
Manilhas, canalização
Para viver a paredes meias
Com as ruas todas cheias
De merda, só que de cão,

Assim nem vale a pena ter
Escrúpulos por aí além,
Numa decisão brava
Manda-se a ética à fava
Caga-se na rua também!

Agachar-se entre dois carros
E satisfazer a natureza,
Das precisões santas
Mais uma vez entre tantas
Não vai fazer mal com certeza...

Tanto trabalho para nada
Tantos estudos e projectos,
Para viver nestas cidades
Monumentais cavidades
Conspurcadas de dejectos,

Mas quando se chama a atenção
Costumam gritar em defesa,
Que nem parecemos humanos
Que de animais não gostamos
E será por isso, com certeza,

Que não queremos aceitar
Que na rua os cagalhões,
São tanto factos da natureza
Como sentar-se à mesa
E entalar os colhões...

21-3-2002

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