Caros senhores ministros
Governo respeitável,
Como já todos sabemos
Todos nós conhecemos
Esse vazio imensurável,
Onde em vão se perdeu
A vontade de escolher,
Dos males mais pequenos
Os mais leves e amenos
Que ao votar iremos ter,
Essa imensidão vazia
Que ninguém representa,
Do boletim não constava
O prato que nos cativava
Não figurava na ementa,
E da amplitude total
Só um campo apareceu,
Os partidos do costume
E da frigideira e do lume
A população se esqueceu,
Como no redil das bestas
A ilusão da liberdade,
Ao abate os vai guiando
As tábuas apelidando
De limites da verdade,
Pois a memória já curta,
Não aprende com o erro
E atende às exigências
Das absurdas eminências
Que voltaram do desterro,
Como pés que caminham
Alternando o seu pisar,
O povo-corpo vão levando
À escravidão, fabricando
Razões, para o lá ir levar,
Como vírus informáticos
Que não se vêm a trabalhar,
Assim os governos actuam
E em segredo pactuam
Para as mentes controlar,
Da vastidão do universo
Em que não se pode votar,
Nem uma notícia pequena
Nem sequer tempo de antena
Para opinião apresentar,
Fazem todos de conta
Ser coisa já ultrapassada,
E como humanos crêem
Que os deuses não vêem
Nem querem saber de nada,
E assim depois da Lua
Virão Vénus e Marte,
E às galáxias mais distantes
Em foguetões deslumbrantes
Irão mostrar a sua arte,
Crê o homem que vive
Escassos anos na terra,
Ter tempo para brincar
Depois casar e trabalhar
E fazer ainda a guerra,
Conquistar o planeta
E depois o universo,
Para tudo humanizar
E o mercado implantar
Como ideal do progresso,
Progresso que é o crescer
Das tais contas na Suiça,
Onde a política mundial
Se despe do grande ideal
De austeridade e justiça,
Sem nunca se lembrar
Da pequenez do seu porte,
Da pouca energia que tem
E do futuro onde vem
O seu inimigo, a morte,
Desconhecemos quando
Mas que é certa é sabido,
O nosso coração anseia
Pela libertação da cadeia
Onde nos têm mantido,
Caros senhores ministros
Gravatas que homem usam,
Da vastidão esquecida
Os deuses, o mundo, a vida
Deste inferno vos acusam!
3-5-2007
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