Sai de mim esta manhã
Palco de noite a recordar,
E sai de mim o intento
A intenção, o alento
Pelos meus olhos a rasgar,
A manhã frio e dolorosa
De feitiços e mistelas,
Servidos em palavrões
Daqueles que sem razões
Só persistem nas querelas,
Sai de mim a manhã
Que outra poderia ser,
E eu claro, gostaria dela
Servida sem a mistela
Só para a poder viver,
Sem a essência do mal
Ainda a transbordar,
Do meu peito armadura
Que protege mas não segura
O meu fantasma medieval,
Dragão que vives na caverna
Que vives dentro de mim,
Tu embaixador do mundo
Tu dragão que vens do fundo
Lança as chamas sobre o fim,
Apaga o perdão da sentença
Que o mundo juíz ditou,
Fá-lo pagar por chegar a ser
Mais do que há por oferecer
O mal que em si se instalou,
Admiro-te meu dragão
Tua existência imaginada,
Tem mais consistência
Que a exibida demência
Da dor da noite passada,
Tem mais beleza, mais ser
Tua imagem na realidade,
Que a asquerosa fedentina
Deste monstro que fascina
A enfeitiçada fealdade,
És tu mais eterno dragão
No acervo do que é meu,
Quando te pões a soprar
Puro sangue, fogo a flamejar
Verás que tu dragão sou eu.
20-11-2019 - 09.58
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