quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Sete Anos


Ainda arrefecias mãe
Há sete anos atrás
À data da tua morte
Sete anos hoje faz,

E eu friamente gélido
Mas vivo, dominador
Tudo seguia e tratava
Guiado pelo teu amor,

Limpei-te, ajudei
A vestir-te e ensacar
Carreguei-te pelas portas
Onde já não ias entrar,

Saíste assim, de repente
Por mim assistida, eu sei
Partiste como que fugida
Do teu príncipe, então rei,

Vou dissecando a memória
Com escalpelos de saudade
E os bisturis que utilizo
Abrem incisões na verdade,

Passados sete anos hoje
Por mim tão relembrados
Doí-me ainda a cicatriz
Dos corações apartados,

Onde andarás tu mãe?
Já falaste com o pai?
Pois eu gostava tanto
De saber como ele vai,

Vai-se passando este dia
Com outro ainda a passar
E esse outro só termina
Quando eu também acabar.

21-11-2019 - 09.45

1 comentário:

  1. Muito bom, Jorge. Dois dias que passam num, grande imagem a da última quadra. Se fosse soneto eu diria: "Fechaste com chave de ouro".

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