Ainda arrefecias mãe
Há sete anos atrás
À data da tua morte
Sete anos hoje faz,
E eu friamente gélido
Mas vivo, dominador
Tudo seguia e tratava
Guiado pelo teu amor,
Limpei-te, ajudei
A vestir-te e ensacar
Carreguei-te pelas portas
Onde já não ias entrar,
Saíste assim, de repente
Por mim assistida, eu sei
Partiste como que fugida
Do teu príncipe, então rei,
Vou dissecando a memória
Com escalpelos de saudade
E os bisturis que utilizo
Abrem incisões na verdade,
Passados sete anos hoje
Por mim tão relembrados
Doí-me ainda a cicatriz
Dos corações apartados,
Onde andarás tu mãe?
Já falaste com o pai?
Pois eu gostava tanto
De saber como ele vai,
Vai-se passando este dia
Com outro ainda a passar
E esse outro só termina
Quando eu também acabar.
21-11-2019 - 09.45
Muito bom, Jorge. Dois dias que passam num, grande imagem a da última quadra. Se fosse soneto eu diria: "Fechaste com chave de ouro".
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