segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Da Tauromaquia

Patronete o matador
Passeia-se pela arena,
Esperando a entrada
Da fera desembolada
Para começar a faena,

As bancadas vai olhando
E muito embora duvide,
Que toda a gente o venere
Anseia que a glória o espere
Depois de acabada a lide,

O touro entra poderoso
De cornadura afiada,
Mas o diestro não o teme
E a sua capa não treme
Por naturais animada,

Com uns passes de peito
Ao desplante a chegar,
O touro enraivecido
Marrava convencido
No Patronete acertar,

Verónicas e docentinas
Toda a veia do toureio,
O diestro foi desfilando
E o touro ia dominando
Por esse artístico meio,

O tércio de bandarilhas
A quiebro abrilhantou,
Com vários pares delas
Aplaudidas espetadelas
Que no morrilho cravou,

O negro e o vermelho
O touro pingava sangue,
Era a dramática corrida
Lutar por manter a vida
A luta da besta exangue,

Numa tarde de glória
O sol e sombra aliando,
O matador aproveitou
E a sua arte mostrou
Chiquelinas desenhando,

De seguida Patronete
A muleta preparou,
Mostrou-se ousado
Ao tourear ajoelhado
E aplausos escutou,

Um paso doble a banda
Se convidou a tocar,
E Patronete corajoso
Volteou a muleta vaidoso
Quase dançando a lidar,

Mas não se podia entregar:
A sorte de morte chegou,
O adversário fitou e sentiu
Uma mágoa que logo fugiu
Assim que o estoque empunhou,

O diestro ergueu a espada
E citou em preparação,
Do touro a certa morte
E daquela faena a sorte
Que lhe daria a ovação,
 
Até aos copos a espada
No corpo da besta entrou,
E a morte incontornável
Seu mister fez implacável
E o touro enfim repousou,

Um compasso de espera
O matador fez já cansado,
O triunfo nele se instalava
E a vontade não se calava
De em ombros ser levado,

Os aplausos agradece
E dá uma volta à praça,
Toda a aficion o ama
E em êxtase o aclama
Como matador de raça,

Cortou orelhas e rabo
Recebeu grossa maquia,
Levou para casa a vitória
E guardada na memória
A imagem daquele dia,

E foi tal a bravura
Do diestro Patronete,
Que a aficion pasmada
Compara-o emocionada
Ao falecido Manolete...

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Os touros somos nós
O patrão é o toureiro,
Estamos aqui na arena
E se entramos na faena
É por causa do dinheiro,

Se alguma arte tiver
Esta laboral tourada,
Patronete é o maior
O seu tourear é o melhor
De toda a lide apeada,

As regras desta festa
Para os toureiros criada,
Raras vezes premeiam
Os touros que escoiceiam
E não alinham na tourada,

Por norma o toureiro ganha
Mesmo sem ser o mais forte,
Os toureiros fazem a festa
E aos touros só lhes resta
O seu encontro com a morte.


19-4-2006

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