segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Pressentimento

Tenho vindo a pressentir
Que o tempo está a acabar,
Para este mundo novo
E a este pobre povo
Que restará almejar?

Do que falam dia a dia
Que haverá para dizer?
Quem estará interessado
No novo banco privado
Quem o nome quer saber?

Uma profunda mágoa
No entretanto me assola,
Ver tanta gente levada
A continuar enganada
Nesta vaga que enrola,

Antes tapar os olhos
A ver o que é doloroso,
O mundo inteiro curvado
Sob o peso do mercado
Num sacrifício penoso,

Pois quem gostará de ver
O que só lhe causa dor?
E que se poderá fazer
Para impedir o poder
De propagar o terror?

Pondo a pata em cima
Olham depois a sorrir,
E se notam desagrado
Um exército treinado
Logo a correr há-de vir,

Mas essa tal liberdade
De que dizem fazer questão,
Tantos mortos vai deixando
Que acaba por ir escavando
Os caboucos da escravidão,

Que é mesmo o objectivo
Destes torpes governantes,
Impecáveis engravatados
São tiranos disfarçados
Da servidão apoiantes,

E no dia a dia a batalha
É tão clara quanto a luz,
Pois a direita disfarçada
De eficiência trajada
As débeis mentes seduz,

E já ouvi mais de uma vez
Quem o Salazar detestou,
Esses tempos recordar
Com saudade e desejar
O tempo que já passou....

E confundir a nostalgia
Da juventude que perdeu,
Com a política da altura,
O regime da ditadura
Que outrora combateu,

Se no fim a adulação
Deixar de fazer sentido,
Declararão que afinal
Tinham percebido mal
E havia um mal entendido...

É colossal ingenuidade
A crença que a bajulação,
Alguém poupa da desgraça
De um governo que ameaça
Com duas pedras na mão,

Era melhor que atentassem
No exemplo fornecido,
Escusam de os adular
E de tentarem amaciar
O coração empedernido,

Cada atitude que tomam
Feita para os beneficiar,
Tem como paga a afronta
Que é tomar-vos de ponta
Para a seguir vos rebaixar,

Enquanto existir alguém
A apaparicar o patronato,
Eles terão sempre na mão
Um traidor e um espião
Para lhes encher o prato,

Quem não sentiu ter ouvido
Nos confins da memória,
Que se não fosse o coração
Só reinava a escravidão
E a pobreza obrigatória?

Porque exigem ao povo
Pobreza e honestidade,
Se nas extorsões que praticam
É a Mafia que imitam
Na sua operacionalidade?

A conveniente conclusão
Desta elite governamental,
É que qualquer oposição
À sua hostil dominação
É o terrorismo global...

Mas já quando invadem
Espezinham e exploram,
Deixou de ser terrorismo
É um salutar progressismo:
Uma gulodice que adoram!

Em cada dia que nasce,
Um novo trunfo na manga,
Em cada lei promulgada
Uma extorsão programada
Um novo ferro na canga,

Nem o facto da morte
Também por eles esperar,
Os leva enfim a reflectir
Só o impune extorquir
Os incita a governar,

Quando à noite se deitam
Para no sono mergulhar,
Adormecem embalados
Pelos tilintar dos trocados
Que conseguiram roubar...

Apoiados pelos magnatas
Que os levaram ao poder,
Pensa o povinho iludido
Ter votado no escolhido
E que vota em quem quiser,

Mas a ementa é limitada
Aos cadernos eleitorais,
Só é eleito quem promete
Ajudar quem o lá mete
A roubar ainda mais,

A evidência ninguém vê
De inacreditável vestida,
A vida inteira a maltratar
É o que chamam governar
Nesta Terra entristecida,

E para mostrar uma imagem
Do que eles na verdade são,
Este ano dos fogos florestais
Nem notícias nos jornais
Nem imagens na televisão,

Mas não é por haver falta
De fogos e incendiários,
É a censura e a manipulação
Imperando na televisão
A mando dos torcionários,

Que acharam uma solução
Para constar dos compêndios:
Depois de tudo queimado
Pode o povo estar descansado
Não haverá mais incêndios!

Haverá sim muito alcatrão
Muito betão e relvados,
Campos de golfe gigantes
Os “greens” deslumbrantes
Para turistas endinheirados,

Como temos água de sobra
Mesmo na época alta,
Podem-se regar os relvados
Até ficarem ensopados
Que não nos vai fazer falta...

Para o povo português
Nem uma réstia de bonança,
É olhar para a sua vida e ver
Um buraco negro a crescer
No seco vaso da esperança...



  29-6-2006

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