Vivo a vida em sacrifício
Pois tudo me custa tanto,
Que não vejo já saída
Só uma breve despedida
Terminando o entretanto,
Vi coisas boas na vida
Das melhores que pude ver,
Mas outras mui dolorosas
Deram origem a prosas
Em que só desejo morrer,
Olho para trás na vida
E a tristeza faz sentido,
Se avassala e invade
Os sítios onde a vontade
Me diz que já não consigo,
Viver doutra maneira
A olhar sempre para o chão,
Eu sempre olharei acima
Pois de lá vem o que rima
Com o bater do coração,
Olho as ruas molhadas
Da chuva que já caiu,
Onde sonhei enlevado
Com cerejas deliciado
No inverno que surgiu,
Olho tudo à minha volta
Como que em busca de si,
Na ausência, no vazio
E depois chegou um frio
Tal como nunca senti,
A sua ausência, a sua falta
Momentos por preencher,
Com mais algum tema
Que apenas o triste dilema
Do apenas ser ou não ser,
Cerejas em cima da mesa
Olhos nos olhos em castanho,
Prazeres secretos em privado
Num lago pouco agitado
A que uma onda deu desenho,
Traçou-se assim um esquisso
Tão intenso e desejante,
Que tempos em que esperei
Parecem-me agora, não sei
O cintilar de um diamante,
Um sol que me provocou
Uma queimadura que sofri,
Sim, devia ter mais medo
Mas o prazer do segredo
Apenas me fala de si,
Nas nuvens da evaporação
Que o sol exerceu no lago,
Ilusões foram criadas
De amor alimentadas
Digeridas de um trago,
Foi efémero o dislate
O lago está sossegado,
Permanece lá no fundo
Um amor forte e profundo
À espera de ser chamado,
Tem sentido a tristeza
Há razões para existir,
Para cercear tal ligação
Há-de haver forte razão
Para de tal se desistir...
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