Queria mudar de vida
Estou cansado de pintar
Sempre o mesmo quadro
Em cada tela a estrear,
Parece que a paleta
Mostra falta de cores:
São caras, não as tenho
Compram-se com amores...
Das aguarelas suaves
Ao pastel mais carregado
É sempre o mesmo modelo
O tema por mim pintado,
Se sou expressionista
Uso nas cores berrantes
O que sinto do mundo
Em pinceladas marcantes,
Se impressionista quero
Tornar aquilo que pinto
Tento transmitir na tela
Tudo aquilo que sinto,
Se me abstractizo
Olham para mim de lado:
- Mas quem é este gajo?
- O que é aquilo pintado?
Se o cubismo abraço
As formas geométricas
Desfazadas das cores:
- São por demais sintéticas!
Se figurativo me torno
Aqui d’el Rei que a luz
Não está bem espelhada:
- Os cambiantes não traduz!
É sempre o mesmo quadro
De todas a mais bela,
Podem mudar os pincéis
Guaches, óleos, pastéis
É sempre a mesma tela...
No quadro exibido
É sempre o mesmo modelo
É uma beldade escultural
Que se pinta com desvêlo,
Nua, vestida, deitada
És uma Musa da arte:
Foi Erato da poesia
Que resolveu enviar-te...
Telas semelhantes
Têm quadros diferentes:
Todas as telas em branco
São sempre muito exigentes...
Erato tem pois razão
E Euterpe a corrobora:
A Música e a Poesia
São horas na mesma hora,
Podemos pintar à vontade
As Musas presidirão
Podemos pôr em poesia
A sussurrada inspiração,
Não temos nove Musas
Temos sim milhentas
Andam aí pelo mundo
Dos artistas sedentas,
Bem haja Mnemósine
E Zeus o seu amante
Nove lindas belezas
Há desde aí em diante...
E mesmo agora aqui
Não sei onde a minha está
Mas a minha mão escreve
A inspiração que ela dá...
28-10-2019 - 23.05
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