Eu procuro não sei o quê
Procuro em cada dia que passa
Olhar através da vidraça,
Às vezes,
Vejo uma luz do outro lado
Mas passa tão de repente
Que quando a vejo no presente
Já não é presente, é passado,
Às vezes uma palavra
Um som que eu sei que já ouvi
Fazem-me pensar que parti a vidraça
Ultrapassei a barreira
Que me separava da taça,
Mas voltou a conversa
Com a mente tão dispersa
Tão cheia de nada
Que sinto um calafrio
Em ter uma vida passada
A procurar um vazio,
E às vezes penso
E escrevo até chorar
Mas não choro,
Há muitos anos
Que procuro não sei o quê,
Procuro um momento
Que não sei como é,
Um substantivo que me passa na caneta
Com que às vezes escrevo, não sei porquê
Nem para quê,
Metamorfosiei-me num exegeta...
1971
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