Fechei a porta da rua
Estava só em casa,
Passeei de cigarro na mão
Nunca a vira tão nua
Tão cheia de solidão,
E o tic-tac do relógio
Batendo sem parar
E eu a escrever
A escrever para não chorar...
Sim! Choraria
Que diabo, sou um homem
Mas os meus olhos também comem
O sabor da companhia!
O silêncio da casa
Tão diferente do que eu pensava...
Austero
Diabólico
E eu de escrever não parava...
Vieram-me à memória
Histórias das almas do outro mundo
Tão velhas, tão faladas
Vinham lá mesmo do fundo...
E o tic-tac sempre...
Apeteceu-me cantar
Cantei
Mas aquela canção...não sei...
Encheu-me de raiva e de medo
Gritei para apagar aquele silêncio mortal
Mas não tinha mais ar...
Nem vontade de gritar...
Calei-me, olhei,
Sorri, pensei...
Ah! o que a imaginação faz...
Mas um papel que então caiu lá atrás
Calou-me a solução...
Vi-me na situação
De ser ou não ser,
E provei que sou normal
(ou pelo menos mortal),
Pois se não ouvisse então na porta
A chave da minha mãe
Vestia o casaco a correr
E ia-me embora também!
1974
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