sábado, 26 de outubro de 2019

Cabeça Branca

Delira a ave possuir bancos
E no seu pensar de contralto,
Acha que os cabelos brancos
Lhe dão um porte mais alto,
Como se quisesse dar um salto
Pese embora use tamancos...

Engana-se redondamente:
Pois a sua altura é pouca...
Lá que o carisma debande
E até se desmanche a touca
O seu ego é que é grande
E, quiçá, duma grande louca…
O seu cartão de visita deve ser
- Sabe tudo, conhece todos
- É pau para toda a colher...
Mas entre os milhentos amigos,
Desses milhares de umbigos
Qual deles é duma mulher…?

Enquanto houver língua e dedo
Não há mulher que meta medo,
Mas se a língua for venenosa
E pouco interesse houver no dedo,
Sim é, razão suficiente e gravosa
Para que uma mulher abale cedo...

Mas vamos lá ver, afinal de contas
De que serve isto tudo, para quê?
Lograr ter dos cordões as pontas
Para congeminar tramas...porquê?
Por certo são devaneios de tontas
É pescada... e do alto, já se vê...

Quem sabe numa opereta (aqui para nós),
Que o gongórico motiva,
Com tantas perucas e pós…
Na corte, em época festiva
Talvez se logre ouvir-lhe a voz,
Já com o olho num conviva
A voz de rouxinol...duma diva…

Para assim tudo clarificar
Para não deixar mais confusões:
Para ele andar os outros a lixar
Deve gostar dumas comichões,
Que lhe sabe bem aplacar
Na recato das suas mansões…

E para rir não seria obstáculo
Se não nos merecesse deplorar,
Quão lamentável é o espectáculo
Que esta ave anda a encenar,
Como se dum bispo, o báculo
Só lhe servisse para se consolar…

Pois vamos assistir ao desenrolar
Desta tragicomédia que escreveu
E se não sabe que fim lhe há-de dar...
O último quadro, esse, escrevo-o eu
Aplaudido de pé ao veniar, enrabado
Por tantos, sem conta, que já fodeu…

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