domingo, 27 de outubro de 2019

Campismo Selvagem

Foi em 1979 no Gerês
No velho campismo selvagem
Que se decidiu montar a tenda
Com segura ancoragem,

Pois o declive da colina
Vai dar ao Rio Homem
Onde os regatos à volta
Como afluentes se somem,

Alguns “hippies”como nós
Arriscavam ali permanecer
Sem sombra de civilização
Além da que podíamos ter,

Nos nossos parcos haveres
Pão de milho, chouriço e fruta
E não adivinhávamos sequer
Que se avizinhava uma luta,

Foi entre a terra e o céu
Sob a forma de trovoada
Que fazia do lusco-fusco
Uma escuridão iluminada,

E chegou a tempestade
Chuva, trovoada, vento
Parecia a natureza mostrar
Da sua força o momento,

Talvez por ali estarmos
Sem termos sequer convite
E da devassa da montanha
Aparecia a conta do palpite,

Que a Serra Amarela queria
Como aviso nos mostrar
Traços do poder que o mundo
Reserva para se utilizar,

Já noite, os dois na tenda
Assistíamos impotentes
Ao desenrolar da peleja
Dos vários intervenientes,

Raios seguidos de trovões
Em sequência ritmada
Pelas descargas eléctricas
Estalando na cumeada,

Sentíamos tal respeito
Tal medo daquele poder
Que nem sequer se falava
Cada qual no seu tremer,

Lá passou a tempestade,
Na manhã clara e radiosa
A serra tinha a cara lavada
Pela carga de água copiosa ,

Ao olhar o braço esquerdo
Como quem assim não quer
Doíam-me as marcas dos dedos
Da minha primeira mulher...



20-9-2019 - 10.50

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