domingo, 27 de outubro de 2019

Das Verdades

Porcarias, merdas e chatices
São tudo o que nos resta,
E como já todos sabemos
Que fugir não podemos
Há que fingir que é festa,

Assim montaram o esquema
Os que de carteira basta,
Quando a chatice lhes cheira
Com manigância matreira
Tratam de passar a pasta,

Todos os dias me lembro
De escrever o que aqui está,
Mas nunca é suficiente
Fica sempre uma semente
Que nova escrita será,

Muitas vezes cá a pensar
Chego à triste conclusão,
Que não tem futuro o Homem
E todos os sonhos de glória
Evocados pela História
No sono da morte se somem,

Tão pequeninos que somos
Ainda logramos sustentar,
Uns milhares de ricalhaços
Que precisam destes braços
P’ro negócio prosperar,

Todos os dias a mente
Me apresenta este tema,
E todos os dias pensando
Com pachorra matutando
Lhes descobri o esquema,

Está tudo já bem montado
Funcionando na perfeição,
Enquanto a igreja e o estado
Vão fazendo a manutenção,
Podem os tais ricalhaços dar
Livre curso á exploração,

Exploração que é o nome
Que aqui dão à actividade,
De chular o semelhante
Como um bom comerciante
(Dentro da legalidade),

E se no decurso da mesma
Há um pobre maltratado,
Um juiz vem logo absolver
O patrão, que a meu ver
É quem lhe paga o combinado,

As situações seguem-se
Em cadência assustadora,
A revista, o jornal, a televisão
As imagens, o som, o trovão
Da máquina devoradora,

Quando querem sindicato
São os polícias cidadãos,
Quando toca a carregar
É só malhar até fartar
E já não há cá irmãos,

O prato onde estes comem
De benesses fumegante,
Pelos ricos bem servido
Tem um preço garantido
Que é do status o garante,

Anda o pobre cidadão
A trabalhar a vida inteira,
Para andarem estes cabrões
A fossar que nem marrões
P’ra lhe roubar a carteira!


3-10-2003

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