sexta-feira, 25 de outubro de 2019

Talassofania

Eu estou a montante
E sou a nascente que vai
Levando o regato a correr
Enquanto que de mim sai,

Lá o vejo a ir-se embora
Para o seu destino, o mar
Já nem se lembra da fonte
Tal a vista é de espantar,

Corre lesto, colina abaixo
Cada vez mais depressa
Mas só escalavra o declive
Que o obstar não lhe impeça,

De afluir noutro ribeiro
Doutra fonte, doutro lugar
De uma outra parte de mim
Que não logrei aglutinar,

Lá seguem ambos num só
Sempre, sempre a engrossar
Tudo arrastando no leito
Para o conseguir transportar,

E por fim na bacia oceânica
Liberta-se de todo o aluvião
Como tosca matéria-prima
Da próxima estratificação,

E até mesmo esse oceano
Onde o rio se aconchegou
Me parece agora fazer parte
De tudo aquilo que sou.

28-8-2019 – 14.13

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