O Largo de Sapadores
Um vetusto cruzamento
Era o dos Quatro-Caminhos
Sempre com o mesmo vento,
Passado todo esse tempo
Os quatro caminhos cá estão
Mas disfarçados de ruas
Com a mesma direcção,
Norte, Sul, Este, Oeste
Ronda dos Quatro Caminhos
Cruzados, antigos, moldados
Pelo passagem dos vizinhos,
Há muito tempo aqui vim
E pela mão do meu pai
Vim para ver a miséria
Que desaparecer nunca vai,
Na forma dumas barracas
Que aqui se encontravam
Casebres com tugúrios
Onde os germes festejavam,
No bairro de lata existia
Uma cloaca à toa escavada
E a premência da fome
Estava nas caras estampada,
Recordo mesmo um menino
Pouco mais novo que eu
Com uma camisola de alças
E a roupa que Deus lhe deu,
Comia a sopa duma panela
Já antiga de requentar
E a sua ranhoca escorria
Para a sopa, quase a acabar,
Nunca mais esquecerei
A ilação que transpareceu
Eu, em casa, lia livros
Mas ali, o burro era eu,
Resta em mim a imagem
Daquele retrato da vida
Para mim tão namorada
Para outros tão fodida…
7-9-2019 – 14.35
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