domingo, 27 de outubro de 2019

Irmã

Quem seria esse ser
Que dos meus pais nasceu
E passados oito dias
Não resistiu e morreu?

Morreu duma condição
Hoje por norma curada
Nasceu com o crânio
Numa fase atrasada,

Não estava soldada
Do crânio a ossatura
Livre campo a infecções
Para que não havia cura,

Não havia incubadoras
Os precoces morriam
O prognóstico era fatal
Era o que então diziam,

Mesmo assim essa perda
Que os meus pais sofreram
A mim nunca me afectou
Com amor a resolveram,

E sinto tantas saudades
De quem me queria bem
Como do asco que sinto
De quem o mal me vem,

Do cinismo e hipocrisia
Já tão bem conhecidos...
Teria essa minha irmã
Males também sentidos?

Sei que nunca o saberei
Mas a memória está cá
Nunca a vi nem conheci
Mas a curiosidade cá está,

Nem sei como seria
Ser provido de irmã
Teria o mesmo sabor
O despertar na manhã?

Como seria a reinação
Tendo-a para brincar,
Seria hoje o mesmo
Irmão que se deixa estar,

A ver o mundo passar
No seu cortejo de dor
E ver o meu irmão real
Sem saber, no corredor?

Perguntas sem resposta
Questões imaginadas
Vou saber a quem tem irmã
Se estão certas ou erradas...



19-10-2019 - 20.05

1 comentário:

  1. Muito bom, Poeta! Espero que fosse mais nova do que tu, essa irmã que infelizmente ficou pelo caminho, porque se fosse mais velha talvez tu não tivesses chegado a existir. Ou talvez sim, quem sabe? Com outro nome, noutra família e com outra poesia...

    Um grande abraço, amigo.

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