O que vocês dizem
Eu não quero saber
O que eu queria ouvir
Vocês nunca vão dizer,
Um conflito de interesses
Com facilidade dirimido
Vocês fabricam as notícias
Para um público aturdido…
Abismado com tanta morte
Tanto desastre, tanta dor
Mas vocês não se condoem
Voltam à carga: - Façam favor!
Venham ao circo de sangue
Que montámos para vocês
E esperem todos na fila
Há-de chegar a vossa vez...
Vão ter honras de manchete
Mas só uma vez na vida
Aproveitem, sejam mortos
Têm a fama garantida...
Comprem o nosso jornal
Comam-lhe as letras todas
Milhares são já os processos
Que de antigos fazem bodas….
Festejem na companhia
Dos nossos hosts habituais
O Goucha, a Cristina, a Júlia
O “Gordo” e outros que tais…
Não recusem a pantomina
Tem um gostinho especial
E o cheiro de tinta fresca
Dum matutino jornal...
Vão comprando, vá lá
Absorvam de manhã
Os temas para o dia
Uma súmula mal-sã...
Crimes hediondos
Casos de polícia
Levados ao detalhe
Do decurso da sevícia….
Processos acumulados
Na cabeça dos leitores
Ficheiros na secretária
De trabalho dos horrores...
E que bem que vos faz
Darem a vossa opinião
Não vai servir de nada
Mas têm-na, pois então!
A Dona Genoveva
O Senhor Aparício
Têm uma ideia clara
Da origem do vício,
É da falta de trabalho
Da falta de exploração
Se trabalhassem estavam
Preocupados e com razão,
Hoje em dia tudo é mau
De tudo o mal nos vem
Só enriquecer os outros
Dizemos fazer-vos bem…
Trabalho duro e barato
É por certo a solução:
Ordenados vestigiais
E finais do mês sem pão…
Vidas de sobrevivência
Construídas em tostões
Migalhas do patronato
Meros sinais dos milhões,
Que abarrotam as contas
Nos offshores abertas
De cujo rasto a justiça
Tem as ignorâncias certas...
Por isso comprem jornais
Velha base da cultura
Quinta-essência da mentira
Na sua forma mais pura,
Vão pingando os dinheiros
Que novas notícias farão
E na manchete de amanhã
A mesma merda serão...
9-9-2019 – 17.50
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