Soubemos através da comunicação social da possível construção de um novo estádio para o S.L.B.
É uma boa ideia convenhamos, mas sem querer ferir
susceptibilidades e arvorando-nos o direito de ter ideias, podendo estas resultar ou não, reflectimos sobre o assunto, concedendo-lhe o tempo necessário a que estes assuntos complicados e importantes têm
direito, tivemos uma ideia e cá estamos a divulgá-la antes que outros o façam:
No sentido de melhorar a prestação do país no âmbito mundial e de modo a que a nação em peso se consiga guindar ao estatuto que os postulados
da actualidade exigem, vimos por este meio fazer a seguinte sugestão:
Substituir a construção do novo estádio do SLB pela de um acelerador de partículas em Lisboa,
à semelhança do projecto já existente na Europa central (CERN).
Temos a certeza que os 8 milhões de adeptos do SLB concordarão em absoluto com esta sugestão já
que as aspirações intelectuais da faixa de população acima referida se inserem, sem a menor sombra de dúvida, no âmbito deste projecto que ora toma forma.
Extensão a médio prazo do mesmo (ou semelhante) projecto ao Porto de modo a contemplar com verdade e justiça
os princípios de sã concorrência de que a cidade Invicta, como é lógico, não irá abdicar, mas também estendendo a ideia a outras cidades, ou seja, descentralizando.
Neste projecto colaborarão adeptos do clube em questão que, quer pelas suas actividades ou pela sua dedicação
à ciência em geral e ao futebol em particular se enquadrem no perfil da equipa a operar o equipamento a instalar.
Atribuição do nome das figuras de vulto do futebol português às primeiras partículas
a serem descobertas no decurso das experiências a realizar no futuro acelerador i.e. Eusébion, Vilarinhon, Damásion etc (no Porto ; Pinton, Drulovichon, Jardelon etc).
Constituição de um campeonato de aceleração de partículas, a efectuar quando o Porto
possuir o seu próprio acelerador, que irá obviamente substituir o campeonato de futebol, com transmissão em directo pelas televisões das acelerações e choques a ocorrer, com classificações
e pontuações à semelhança do que acontece no actual campeonato nacional.
Pensamos deste modo efectuar uma poupança de vários milhões de contos ao erário público pois é impensável que um acelerador de partículas
custe tanto como um estádio novo (20 milhões de contos!!!).
Estamos cientes da necessidade imperiosa de um novo estádio para o SLB uma vez que o actual com capacidade para apenas 120.000 pessoas é já um vetusto edifício
com algumas décadas e o constante acréscimo de sócios ao clube em conjunto com o carinho que a população do país nutre por este órgão soberano, tornam urgente a demolição
do velho estádio e a construção de um novo, mas não podemos deixar de notar outras necessidades imperiosas neste país, nomeadamente a restruturação e reequipamento das forças
armadas, obra de cariz hercúleo, financeiramente falando mas tão premente nestes tempos de guerra que atravessamos. Com esta nossa sugestão também as forças armadas ganharão, pois
a tecnologia de ponta passará a residir em Portugal e este acelerador não deixará de contribuir significativamente para a modernização dos equipamentos bélicos e quiçá
para a descoberta de uma nova bomba que apetrechando as nossas forças armadas, fará com que o nosso país passe a fazer parte do grupo nuclear o que, como todos sabemos, actuará como poderoso dissuasor
face aos potenciais inimigos que pululam no mundo. Pensemos no futuro risonho que desejamos aos nossos filhos! Com esta iniciativa estaremos na crista da onda da investigação científica, da exploração
espacial e da procura humanista de novos valores que não deixarão de pautar o modus vivendi e incorporar na sociedade o fluxo regenerador da energia nuclear.
Também a imprensa em geral e a desportiva em particular ganhará fôlego com esta sugestão, já que os jornalistas desportivos poderão a partir
dessa altura empregar com mais propriedade na ciência os termos rebuscados e vernáculos que costumam utilizar para o futebol. Ainda mais, o seu contacto com o jargão científico tornará as
notícias ainda mais apelativas com as descrições dos desastres e tragédias cientificamente explicadas. Mas acima de tudo, numa visão de futuro, ganhará sem dúvida o panorama
intelectual português, já que os adeptos que agora gravitam à volta do estádio da Luz, ali passando dias a fio, estoicamente abdicando dos seus trabalhos e afazeres em prole do clube, enfurecendo-se
com as sucessivas derrotas e insultando os jogadores e dirigentes, poderão no futuro cevar os seus instintos nas já referidas partículas subatómicas sempre que estas não desempenhem o seu
papel com a galhardia e o valor que o momento exigir, com o mesmo ardor ou maior, apupando-as e vaiando os elementos utilizados nas experiências com frases como: - Filha da puta do urânio 234 que não se
desintegra como deve ser! – ou – Malditos electrões de tório que não se detectam no alvo! – Frases que, pese embora não espelhem com realismo o elevado interesse académico
dos autores, elevarão no entanto a consideração que os outros países têm sobre o nosso e provocarão a inveja das grandes potências mundiais quando for noticiado internacionalmente
que 8 milhões de adeptos futebolísticos portugueses optaram pela ciência face ao futebol, o que será assaz positivo.
Pensamos que esta sugestão, embora cheia de boa vontade, não deixará de agitar as águas já de si turvas do binómio político-futebolístico,
cujos lobbies, há muito instalados, não deixarão de se mostrar refractários a esta viragem de rumo nos destinos do país, mas cremos
que os nossos dirigentes (políticos, futebolísticos etc) cientes das directrizes do interesse nacional não deixarão de pesar na balança da razão os argumentos ora expostos e enveredar
pelo caminho tortuoso e difícil da ciência, certos do porto a que pretendem chegar, apesar da turbulência do mar que experimentam.
9-5-2001
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