Agora que está doente
Uma sombra do que era,
Sei que sou eu o pai
E só o futuro falando vai
Saber o que de mim espera,
Eu cá estou para pagar
Toda a ajuda que me deu,
Haja quem o compreenda
Que o ampare e defenda
E, esse alguém sou eu…
As memórias que me deu
Da infância à puberdade,
Vão-se nele apagando
E em mim vão evocando
Tempos de felicidade,
E o coração magoado
Nos meus olhos a chorar,
Mantem a sua imagem
Na derradeira coragem
De o querer conservar,
A visível decrepitude,
As manias que agora tem,
Pregam-me um susto de morte
Ao pensar que a sua sorte
Pode ser a minha também,
E a minha mãe, aturdida
Chorosa e amargurada,
Vê o seu grande amor
Transformar-se numa dor
Tão raramente atenuada,
Chego lá apreensivo
Contente por os ter vivos,
Saio triste e resignado
Mais só e preocupado
Com a lista de motivos,
Vejo o sol que brilha
Os dias que passam iguais,
Só a minha vontade sentida
Leva um pouco de vida
Ao dia-a-dia dos meus pais,
Estranho mundo envolve
As nossas vidas ligadas,
Por cordões umbilicais
De que não restam mais
Que duas pontas cortadas,
Vou para aqui e para ali
Vogo ao sabor da corrente,
Moço de fretes da vida
Qual sombra desvanecida
Que tange agora o presente,
Tardio fim-de-semana
De nostalgia e saudade,
Olharei de novo o mundo
E lá descerei ao fundo
Da minha própria verdade,
Olhando agora de longe
A cidade onde nasci,
Da sua pétrea dureza
Se constrói a certeza
Do muito que já vivi.
21-7-2007
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