domingo, 27 de outubro de 2019

Clarabóia

Muito obrigado Lecas
Por me teres posto a alcunha
Nisso deste-me uma força
Que na altura se impunha,

De desbravar a palavra
Quando poucos o faziam
E trilhar esse caminho
Que os outros não queriam,

Não sei sequer como viste
Que eu nisso tinha futuro
Alguma coisa minha leste
Talvez um a falar duro,

Na altura não imaginava
E continuo a não saber
Porque me deu esta coisa
Destes monológos escrever,

Talvez dum livro de poesia
Que a minha avó comprou
Com 800 anos de textos
Que Portugal acumulou,

Lá li de Ary dos Santos
A “Arte Peripoética”
Fiquei logo apaixonado
Pela rima, pela métrica,

Passados tempos, um dia,
Ao vir da escola fiquei
Sem poder entrar em casa
E na escada me sentei,

Na solidão iluminada
Desse último andar
Estava um tal silêncio
Que não o ousei quebrar,

E pela primeira vez
As palavras fluíam
Pelo lápis traduzidas
Em estrofes que saíam,

Como que num puzzle
Com resposta imediata
Sei agora que era a Musa
A inspirar-me em catarata,

No último andar do prédio
Com a luz da clarabóia
Fiz os sentidos rimarem
Como se talhasse uma jóia,

Quando cheguei a casa
Guardei-os e esqueci
Aquilo que tinha feito
E dessa forma os perdi,

Não fez mal pois entretanto
Tanta coisa já escrevi
Que a escrever me lembrei
Duma estrofe feita ali,

Já a escrevi num texto
Para não me esquecer dela
Ficou na mente guardada
Como visão duma aguarela,

Que outrora ali pintei
Desses quadros o primeiro
Lá no 51, 5º andar
Da Damasceno Monteiro.

31-7-2019

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